Meus caros
leitores, continuando nossas observações a respeito das manifestações populares
realizadas Brasil afora, é impressionante como os políticos, especialmente os
que assumem as chefias dos executivos, sejam prefeitos, governadores e
presidentes, com o passar do tempo, tornam-se insensíveis aos reclamos
populares e pensam que nós não passamos de um bando de “trouxas”, inconsequentes,
ingênuos, facilmente iludidos.
Ao recuarem
no reajuste das tarifas dos transportes públicos nas grandes cidades, os chefes
dos executivos municipais e estaduais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Pernambuco,
afirmaram solenemente que teriam de sacrificar investimentos em áreas sociais,
para aumentar as subvenções às tarifas, estimando gastos extras de milhões de
reais.
São todos
eles muito cínicos e “caras de pau”. Não precisamos ir muito longe para
verificarmos os imensos gastos com publicidade de todos os governos. No
Federal, nos estaduais e municipais, são
muitos os milhões pagos às agências de publicidade, a grande maioria destinada
a fazer propaganda das realizações governamentais, já pensando na eleição
seguinte. Se somarmos as verbas publicitárias destes governos, elas alcançam
bilhões de reais anuais e uma verba menor, cerca de 10%, destina-se à
justificada publicidade institucional, campanhas de vacinação, etc.
O jornal
“Folha de São Paulo” publicou recentemente que o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica Federal e a Petrobras, gastaram milhões de reais na compra de
ingressos e camarotes para os jogos da Copa das Confederações, tudo isso para
distribuírem para privilegiados executivos e familiares das três empresas e
clientes selecionados, vale dizer, os “amigos do rei” das diretorias das 3
empresas. O Banco do Brasil e a Petrobras gastam muitos milhões anualmente com
patrocínios de clubes de futebol, voleibol e torcidas organizadas.
O governo
do Estado de São Paulo gasta muitos milhões de reais com verba publicitária da
SABESP (Copasa Paulista), empresa que tem o monopólio da produção, distribuição
de água e tratamento de esgoto do estado. Mesmo assim, sem concorrentes, gasta
horrores em propaganda, falando das maravilhas do governo tucano. Portanto, não
passam de cinismo as alegações das referidas autoridades acima mencionadas,
mesmo porque não estão nem se lixando para o sofrimento da população.
Para que os
leitores tenham uma ideia do sofrimento do povão da periferia de São Paulo, um
repórter da “Folha de São Paulo” acompanhou uma anônima passageira, a partir
das 5 horas da manhã, de nome Ana Carolina, moradora de um bairro chamado Jardim
Ângela. Ao telefone celular, ela
explicava para o patrão que não conseguiria chegar à loja de roupas onde
trabalha. Para chegar ao trabalho e à escola, ela passa 4 horas diárias dentro
de um ônibus. Disse para o repórter que lá no Capão Redondo (bairro da
periferia), não é fila que tem pra pegar o ônibus, na verdade é uma guerra, ou
você se joga no “bate-cabeça”(nome do ônibus articulado) ou não consegue
entrar. “Estou cansada disso tudo”.
E continua
o repórter do jornal. As reivindicações no Jardim Ângela, uma das regiões mais
carentes e violentas da cidade de São Paulo, eram mais realistas do que as da
Av. Paulista e Faria Lima, mas não menos diversificadas: duplicação da Estrada
M`Boi Mirim (importante avenida do bairro, ligação à zona sul); terminal do
metrô no bairro; retomada de linhas de ônibus e a redução da tarifa. Pedem
também moradias, médicos para o posto de saúde e policiamento da guarda civil
metropolitana para as escolas do bairro.
Esta gente
humilde e trabalhadora está cansada. Há 30 anos os vários prefeitos que
passaram pela Prefeitura de São Paulo prometeram duplicar a referida Estrada,
mas não cumpriram a promessa. Por isso, esta gente fez uma passeata no bairro,
engrossando as fileiras e os protestos gerais que se disseminaram por toda a
cidade. Milhares de manifestantes caminharam cerca de 10 quilômetros pela
Estrada M`Boi Mirim e gritavam para as pessoas: “vem para as ruas, vem”, ajude
a protestar contra os políticos safados. Hoje não conseguimos pegar os ônibus
para o trabalho, de tanto lotados que estavam. Felizmente, a Polícia Militar
não desceu o cacete nesta gente sofredora, mesmo porque a passeata foi
pacífica. É assim que o povão é tratado e transportado como gado. Parece que
chegou a hora do basta. O dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues já dizia: “Se
o povo não sabe direito por que está batendo, os governos sabem muito bem por
que estão apanhando”.
Meus caros
leitores, estudantes, moçada em geral, vamos para as ruas protestar ordeira e
pacificamente. Vamos mostrar a todos os políticos a nossa insatisfação e
indignação com a farra do dinheiro público na Copa do Mundo, que vai custar
para o sofrido contribuinte brasileiro cerca de 28 bilhões de reais.