Há muitas dores no coração de Santa Maria.
Entre tantas dores cravadas no peito de Nossa Senhora,
a noite que passou e que não passou e nunca mais passará,
trouxe mais lágrimas para o coração de Santa Maria, a Mãe de Deus.
A noite de balada que não embalou o sono será eterna.
A noite que abalou o sono não trará mais os beijos dos filhos, devorados pelas labaredas da Kiss.
Quis a morte crucificar os pais, na vasta convulsão do beijo maldito, na madrugada longa e lilás.
A noite da câmara de gás engoliu com mórbidos beijos, com línguas devoradoras de fogo, com dentes afiados, os meninos indefesos,
sob lençóis de negra fumaça.
A noite durará para sempre.
Ah! A aurora...
O relógio da aurora batendo, sem despertar,
O celular tocando, sem fazer acordar.
Ah, como é difícil amanhecer e ouvir o noticiário. Mas não amanhecerá mais.
Nessa madrugada de janeiro de Santa Maria, todo filho é Menino Jesus... E toda mãe é Maria. Todo pai é José.
Para onde correram os jovens confusos, comemorando a mocidade?
Entre espumantes, drinques, fogo e fumaça
fugiram para onde pulsavam
as bombas-relógio: nos banheiros, nos portões fechados, na ditadura dos comandantes da noite e suas malditas comandas,
que cobram o preço da vida na única porta de saída.
Fogo de artifício, vela fria... É a máquina
da chuva de prata, alegoria de estrelas
ilusórias, breve e assassina, que
não consegue mais brilhar : uma garrafa de espumante para brindar aniversários, universitários, formaturas e mocidade.
Não há mais brindes.
Há mortos demais. Há mortos demais.
Um morto já seria demais...
Nas calçadas apinhadas de pais, sem paz, há mortos demais...
A boate é agora é uma vasta oficina da morte; campo de concentração com corpos
empilhados... Uma nova Auschwitz-Birkenau.
No céu de Santa Maria, ao contrário das constelações, as vidas deixam de brilhar e se apagam precocemente;
ao contrário dos dezessete, dos dezenove, dos vinte anos, que pulsavam dentro
de blusas, dentro dos jeans, dentro dos primeiros
sapatos de salto, dentro de minissaias, dentro de batons e cabelos longos, volta-se à infância... Chega-se precocemente ao final.
Ao contrário da vida, na pista de dança, na girândola pirotecnica, na alegoria mórbida da morte,
apagam-se rostos,
dos corpos jovens, que ontem pertenciam aos seus pais... Agora voltam a ser bebês desprotegidos.
Moços que seguravam o copo, que balançavam os corpos e brindavam a vida, aos beijos, agora jazem no chão e aguardam os colos dos pais.
Há mortos
demais, há mortes demais, há corpos
demais. Há pais que vislumbram seus filhos inertes, surdos aos apelos de acordar e gritam por um milagre...
Levanta, filho!
Hoje é segunda-feira...
É dia feito de lágrima em todo lugar, onde tudo poderia ser igual, mas não será.
Levanta, filho!
A grande maioria dirige-se para o trabalho... E não se falará outra coisa, senão que há mortos demais...
Um morto já seria demais.
Crianças passam para o colégio, mais silenciosas. Mães fazem comida, mais temerosas...
As pessoas
desmarcam encontros, sem ter mesmo para onde ir.
Muita ameaça
pesa sobre as cidades e suas mocidades.
Os homens querem fabricar estrelas dentro de boates.
Querem brincar com fogo!
Os homens não querem perder o que está escrito nas comandas dos circos:
Fechem os portões, bebam, dancem, comemorem a vida e paguem na saída!
Há muitas dores no coração de Santa Maria.
Santa Maria, rogai por nós!
30/01/2013
Fogos de artifício são tóxicos para os seres humanos e para os animais. Os fogos de artifício produzem fumaça e poeira que contém vários metais pesados, compostos de enxofre, carvão e outros produtos químicos nocivos. Bário, por exemplo, é usado para produzir cores verdes brilhantes, apesar de serem venenosos e radioativos. Compostos de cobre são usados para produzir as cores azuis, mesmo contendo dioxina, que tem sido associada ao câncer. Cádmio, lítio antimônio, rubídio, estrôncio, chumbo e nitrato de potássio também são comumente usados para produzir efeitos diferentes, mesmo que eles possam causar uma série de doenças respiratórias e outros problemas de saúde.
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